domingo, 1 de maio de 2011

Recado Importante

"A marcha sobre Roma", de Dino Rizzi, dia 10.05.2010 (terça-feira), às 18h30, no INB
Av. São Luíz, 50, 2º andar, Ed. Itália (Circolo Italiano) - Centro. São Paulo/SP
Com a apresentação e os comentários do Professor Maurizio Russo
As inscrições estão limitadas aos 70 lugares disponíveis. A inscrição é gratuita, e a confirmação será feita por email.
Para participar, basta enviar email para instituto@institutonorbertobobbio.org.br
 
“A tarefa dos homens de cultura é mais do que nunca  hoje aquela de semear dúvidas, não a de reunir  certezas” ( Norberto Bobbio, Politica e Cultura, 1955).
Este foi o ideal de intelectual que Bobbio perseguiu na sua vida e que testemunhou com a sua atividade de atento observador partícipe da vida política e cultural italiana. Política e Cultura, dois aspectos que na experiência de Bobbio representam elementos fundantes do compromisso do intelectual, do político e do cidadão que quer ser participante da construção da sociedade em que vive.
Envolvido, como todos os italianos da década de vinte, na experiência fascista, Bobbio amadurece uma importantissima reflexão sobre a necessidade da construção democrática, sobre a procura da democracia como aspecto fundamental do estado contemporâneo. O seu antifascismo nasce de viver a experiência do fascismo, do compreender, também no nível existencial, como aqueles anos foram pesados para a Itália, e quais os tremendos estragos a ditadura comportou para a sociedade italiana e européia. Mas também como o fascismo encontrou no intimo de cada um uma adesão constante e cotidiana a um modelo cultural profundamente antidemocrático e liberticida.
Bobbio viveu a adesão ao fascismo (um fascismo patriótico) no âmbito familiar, e conheceu e aprendeu a apreciar os valores do antifascismo nos anos da escola, através de frequentações intensas com fortes personalidades antifascistas : teve como professores notórios antifascistas Umberto Cosmo e Zino Zini; encontrou e frequentou Vittorio Foa, Leone Ginzburg, Cesare Pavese.
“ Eu que vivi a juventude fascista entre os antifascistas, me envergonhava antes de tudo diante de mim mesmo do depois, e diante de quem ficara preso por oito anos, me envergonhava diante daqueles que diferentemente de mim não conseguiram  sair impune dessa situaçao”.
 Inscrito em 1928 (como muitíssimos jovens italianos) no PNF (Partido Nacional Fascista) e chegando em 1942, através de seu amadurecimento ideológico político, ao movimento liberal socialista de Guido Calogero e Aldo Capitini, e ao clandestino Partido da Ação, Bobbio colaborou, depois da liberação, no jornal Justiça e Liberdade.
 Crescido no clima cultural e político da Torino da década de vinte, do antifascismo e da resistência, mas também do pós-guerra e do boom, Bobbio permaneceu sempre profundamente vinculado a esta cidade particular e fascinante, fechada e esquiva, mas densa de cultura e de história, daquela ressurgimental  àquela das duas guerras, daquela dos anos da constituinte, àquela da migração do pós-guerra. Nos anos ’70, na época do protesto estudantil, o Norberto Bobbio docente não foge do diálogo com os estudantes torineses.
Os grandes momentos da história italiana do pós-guerra encontraram em Bobbio um atento observador, um intelectual dedicado à reflexão crítica, participante dos temas e dos debates contemporâneos. Como em 1971, quando Bobbio esteve entre os subscritores da carta aberta ao semanal L’Espresso sobre o caso Pinelli, também conhecida como manifesto contra o comissario Calabresi. O delegado Calabresi foi acusado de ser responsável pela morte do anarquista Pinelli ocorrida durante um interrogatório na delegacia de polícia. Sobre este episódio obscuro da vida pública italiana realizaram um famoso longa metragem Elio Petri e Nelo Risi, com o título Documentos sobre Giuseppe Pinelli, com Gian Maria Volonté, distribuido pelo PCI e pelo Movimento Estudantil. Nos anos setenta, durante a vigília do sequestro Moro, Bobbio desenvolve uma importante reflexão sobre cultura fascista, e suas relações entre democracia e socialismo.
 Em um artigo surgido no Corriere della Sera, em 16 de maio de 1984, Bobbio criticou abertamente a “democracia do aplauso” e a deriva plebiscitária do PSI de Bettino Craxi, denunciando o risco para a democracia que representava este novo “culto do chefe carismático” que introduzia a prática proprietária do “ patrão” no âmbito de um partido do arco constitucional italiano. Não foi por acaso que Bobbio, junto com o melhor da tradição socialista (Lombardi, Giolitti, Codignola, Enriquez, apenas para citar alguns nomes) abandonaram o PSI de Craxi. E não foi por acaso que não apenas Bobbio mas todo um grupo que provinha do Partido da Ação, Galante Garrone, Vittorio Foa, Giorgio Agosti, Giulio Einaudi, fizeram seus  justamente os temas da “questão moral”, que se tornariam  centrais na estação dos “ maõs limpas” e da queda do sistema craxiano.  
   “A eleição por aclamação não é democrática, é a mais radical antítese da eleição democrática. É a forma, que após Max Weber, não deveria ter mais segredos, com a qual os sequazes legitimam o chefe carismático; um chefe que justamente por ser eleito por aclamação não é responsável diante dos seus eleitores. A aclamação, em outras palavras, não é uma eleição, é uma investidura. O chefe que recebe uma investidura, no momento mesmo que a recebe, está desvinculado de todo mandato e responde apenas diante de si próprio e à sua emissão”.
O cinema italiano que com os seus gêneros (do neorealismo à comédia à italiana), os seus protagonistas (como Mastroianni, Gassman, Volonté etc.), os seus diretores (Fellini, Pasolini, Petri, Moretti…) deu uma leitura/interpretação da Italia de Bobbio e dos períodos históricos com os quais este grande intelectual se defrontou.
Rever a história da Italia dos fascismo até hoje, refletindo sobre temas que foram caros a Bobbio, sobre questões que atravessaram o debate público que o fez protagonista, sobre fibrilações sociais e políticas que caracterizaram os anos da Itália de Bobbio.
Este é o objetivo deste seminário. Utilizando para esta finalidade, o ponto de vista de outros intelectual críticos que foram contemporâneos de Bobbio, e que caracterizam a historia do cinema italiano. Muitos deles foram, com Bobbio, subscritores do famoso manifesto publicado no Expresso em 1971. Um documento que manifestava uma vivacidade cultural e um sentido do intelectual como olhar vigilante e crítico sobre o poder e seus abusos, que hoje faz muita falta.
Primeiro ciclo: A Itália entre a guerra e o pós-guerra, do Neorealismo ao cinema de autor
Quatro filmes para reviver os anos do fascismo e do pós-guerra na interpretação de Roberto Rosselini, Dino Risi, Vittorio De Sica, Ettore Scola.

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